É de noite.
O inocente azul bebê do céu
agora se torna um preto impuro.
Você não queria estar aqui, a
simpatia dessas ruas morreram junto o pôr do sol e agora você vai caminhar
sozinho.
Uma dose de medo desliza para
sua garganta quando você percebe que tem companhia. Passos, o som de passos
vindo de trás de você, você tem certeza que ninguém estava lá antes, ele devia
estar te esperando.
Apenas dez minutos ou menos até
você chegar ao seu ponto de ônibus, você sabe que está com medo, mas certamente
ciente de sua própria curiosidade. O som dos passos ainda perturba mais você.
Você esta com um desconhecido,
você sabe que não devia sentir medo, mas senti. Há alguém atrás de você que
esta te observando caminhas por uns bons minutos, você não desviou nenhum olhar
para ele.
Seu medo e curiosidade batalham
um com o outro, os passos quase se tornam inaudíveis com o som de sua própria
voz brigando consigo mesmo em sua cabeça. Você quer olhar, mas está com medo. O
que está atrás de você? Ele esta te seguindo? Você vai parecer um idiota
medroso se der uma olhada para trás? Você parou para amarrar seu cadarço já
amarrado. Você finge tropeçar e por um segundo da uma olhada para trás e volta
ao normal.
É um homem. Um homem muito
gordo, careca, vestido uma jaqueta de couro que parece um pouco apertada, você
não tem uma grande descrição com a curta olhada, mas o suficiente para
sentir-se estranhamente mais calmo. Sua aparência, embora não seja a mais
comum, não parece ter nada de tão desagradável nele. É apenas uma pessoa
normal, talvez a caminho do mesmo ponto de ônibus que você. Uma coisa que se
destacou em sua breve olhada era que ele estava usando um par de óculos de sol.
A única luz que iluminava era a
luz do luar. Você tenta minimizar a situação com pensamentos agradáveis, embora
sua mente começa a questionar a falta de energia dos postes de luz que deveriam
estar funcionando. O som dos passos fica mais alto e mais frequente. Ele esta
acelerando.
Você tenta andar no mesmo ritmo de seus passos
para garantir que ele não vai alcança-lo; você se mantém lembrando-se que não é
uma caminhada muito longa até chegar no ponto de ônibus, talvez alguém vai estar
lá? Você continua a se questionar quais planos ruins que este homem poderia
trazer e você até se sente culpado por fazer tais suposições dele. Ele é apenas
uma pessoa comum. Você começa a perceber um som ofegante, ele deve estar
ficando cansado. Seu físico não parece o mais atlético. Sua culpa cresce junto
com o resseguro de inocência deste homem.
Sua respiração ofegante cresce
junto com uma tosse, é uma tosse forte que soa como a de um fumante, mas
certamente não soa como algo não humano. Você se sente ridículo po pensar em um
termo de “não humano”, você está tão assustado quanto antes, você esperava
ouvir um som de animal saindo da boca dele? Estes sentimentos de culpa e
vergonha quer fazer você se virar, enfrentá-lo e pedir desculpas, mesmo que ele
não vai ao menos ter ideia do que você esta falando. É uma sensação como se
fosse a coisa certa para se fazer, você sabe que é obscuro confrontar uma
pessoa com tais confissões desnecessárias.
Sua respiração ofegante cresce
com outra tosse, uma tosse mais forte da ultima vez.
Ele começa a fazer barulho,
seus passos soam mais como um tropeço, está é sua chance. Você decide se virar
para ver se esta tudo bem com ele, ver se você pode ajudá-lo.
Você se vira, cheio de
confiança, até que seus olhos se encontram com o rosto do homem. Seu lábios
cobertos de uma saliva escura quando sua boca se abre, essa boca é diferente de
qualquer outra que você já viu antes, ele parece ter fileiras de dentes desordenados
dentro. Sua boca se mantém aberta; ele mantém aberta até que ele começa a se
parecer mais como qualquer outra coisa do que um ser humano. Sua mandíbula se
abre como a de uma cobra, distraído com a boca dele você não tinha notado as
mudanças em seu corpo. O paletó está abrindo, você percebe os ossos e
articulações servindo como uma estrutura para sua jaqueta, isso não é uma peça
de roupa, é a sua própria pele. Os ossos de sua coluna vertebral se torcem
enquanto seu corpo se abre, você pode ver sua caixa torácica fazendo o mesmo.
Seus ossos crescem quando foram expostos; você vê algo se mover dentro dele.
Você corre.
A criatura te segue, quando
você tenta correr contra o vento que esta soprando no seu rosto, você percebe o
som de estalos de ossos. Você não olha para trás para ver a nova forma desta
criatura, não por não ver o caminho a sua frente, mas você não deseja mais ver
algo tão horripilante quanto aquilo. Você aperta os dentes enquanto o vento
tenta fundi-lo de volta em sua direção; ao virar a esquina você estará a poucos
metros do ponto de ônibus. Você diz a si mesmo que o ônibus estará lá, você vai
ser capaz de entrar e ir embora com segurança. Você ouve a criatura atrás de
você e você toma um gole grande de adrenalina e vira a esquina.
O ônibus está lá, na hora certa
de todo os dias, você pode facilmente entrar e pedir para acelerar na direção
oposta daquela coisa. Com um sorriso de alivio no rosto você corre para a porta
do ônibus. A porta está fechada e você se lança num estrondo sobre ela, gritando
para que o motorista abra, você percebe que o motorista é o único a bordo. Você
tem sua atenção, mas percebe o rosto dele reagindo mal ao seu medo. Quase como
se este pesadelo fosse uma ocorrência diária.
Você se vira para a criatura
para indicá-lo ao motorista, ele não deve ter notado, ele deve pensar que você
está bêbado. Quando você enfrenta a
criatura, você percebe seu corpo de
gordura é na verdade composta de uma dúzia de braços ossudos dentro de seu
peito; Ele esta usando-os como uma aranha
usa suas pernas. O que parecia ser o rosto de um homem foi dobrado para trás,
expondo a própria aranha como o corpo da
criatura. Você rapidamente volta atenção ao motorista; ele deve deixá-lo entrar
agora. A última coisa que você vê é um
rosto todo deformado de um mostro avançando com a boca para devora-lo.
- Ele se alimentou noite
passada?
- Sim, acho que foi o
suficiente por uma semana ou algo assim.
Dois homens estavam sentado em
um banco na movimentada rua da cidade, cheio de pessoas aproveitando o dia de
sol. Ambos os homens usavam camisas azuis com um chachá do lado, um uniforme de
motorista de ônibus.
- E fez muita sujeira?
- Não, não restou nada para se
limpar, ele o devorou por completo, ja consegui plantar evidência para que um
criminoso responda pelo desaparecimento dele.
A dupla ficou lá, olhando para
a rua, de vez em quando olhando para baixo em um beco.
Ao lado do beco, eles podiam
ver apenas uma cara gordo, careca, com um óculos de sol. Ele observava as
pessoas passarem, apenas esperando o pôr do sol...
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